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quarta-feira, 25 de junho de 2014

ABAIXO o "Arraiá" no São João ___ é para se envergonhar (RIBEIRO, 2014).

Em algum momento da vida, qualquer cidadão brasileiro com miolos no cérebro deve ter se perguntado:
"PORQUÊ sempre nessa época do ano eu deveria falar e me vestir como um caipira pobre esfarrapado, ignorante, analfabeto e desdentado? Qual o sentido em me cobrir com roupas em farrapos com remendos, chapéu de palha que parece um ninho de passarinhos, calçar sandálias de tabaréu, sujar meu rosto com um falso bigode tosco ou pintinhas nas bochechas e passar tinta preta nos dentes para parecer um banguela que nunca se escovou na vida? Enfim: Porquê diabos todos os brasileiros educados e instruídos nas grandes cidades são empurrados a parecer algo tão grotesco e vulgar que na verdade teriam NOJO de ser?"
A resposta talvez seja:

"Porque essas são as suas RAÍZES. Os brasileiros vieram do interior. Principalmente os nordestinos.
Você devia se orgulhar de suas origens."

Em primeiro lugar, quem tem raiz é árvore. Sou um ser humano, não um vegetal. Em segundo, sou EU que determino quem devo ser. Não uma tradição ridícula que tenta nos rebaixar a todos desde crianças a parecer ridículos. Terceiro: depois de tantos esforços de séculos para deixar o atraso e conquistar o progresso, ninguém deve ser obrigado a simular um retorno a um passado embaraçoso ou um presente vergonhoso, considerando os baixíssimos Índices de Desenvolvimento Humano das populações interioranas na região do Nordeste brasileiro, principalmente nos mais pobres grotões do sertão.
 
Quarto e mais importante: a questão em jogo aqui não são as nossas "origens" mas sim para onde avançamos. Se o povo brasileiro se originou em condições tão anêmicas, não há razão para permanecer assim, nem mesmo celebrar isso com orgulho. Pelo contrário: as precárias condições de vida da maioria dos trabalhadores brasileiros no interior e mesmo dos retirantes nordestinos nos grandes aglomerados urbanos, além do atraso social e econômico dessas populações, são algo para todos nós sentirmos VERGONHA.
E por último: por uma questão de lógica, deveriam ser os caipiras que teriam o dever de abandonar esse padrão de vida tão vexatório e motivo de piadas. São eles que devem progredir para superar o abismo que os separa das regiões mais desenvolvidas do país e melhorar suas condições de vida, falando português corretamente e se instruindo para não serem mais tão atrasados, pobres e explorados por políticos aproveitadores, autoritários e corruptos que se perpetuam no poder com a compra de votos em currais eleitorais, a manipulação das consciências pelo controle dos meios de comunicação de massa, criando verdadeiros feudos eletrônicos, fraudando eleições e impondo a ignorância sobre o povo alienado, e que enriquecem com o desvio de verbas, com a exploração de trabalho escravo ou semi-escravo e com a abominável Indústria da Seca.

ESSA é que deveria ser a nova tendência nacional na época de São João e no resto do ano também. Mas em vez disso, enquanto continuarem seguindo em sentido contrário á lógica do desenvolvimento, os brasileiros continuarão baixando a cabeça para a tradição do atraso; e até mesmo gerando a falsa impressão de que "o autêntico brasileiro" é o tipo espalhafatoso do capiau vestido em andrajos, como se o subdesenvolvimento fosse a nossa sina e nosso "verdadeiro" caráter.

É por repudiar essa farsa grotesca embutida na caracterização artificial das pessoas nas festas juninas que eu me recuso a participar das festas de "Arraiá" dessa maneira. Chega de colaborar com esse horror estético. Seja você mesmo.


Ernesto Ribeiro, 24.06.2014          

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